quarta-feira, 30 de abril de 2008

Livros usados na rede

A compra de livros usados através da internet torna-se cada vez mais facilitada, pelo menos é o que garantem os sebos on line, livrarias virtuais que se encarregam de disponibilizar eletronicamente os seus acervos. Os principais produtos vendidos são os mesmos que comumente se encontram em sebos físicos: livros, CDs, DVDs, discos de vinil, quadrinhos, revistas e VHS. Dentre estes produtos, alguns recebem a classificação de “raridades”, quando não são facilmente encontrados ou não são mais produzidos, o que fazem deles principais atrativos, sobretudo para colecionadores.

O portal “Estante Virtual” oferece ao consumidor a possibilidade de consultar cerca de dois milhões de livros on line, conectados a 800 sebos do país. Caso disponíveis, eles podem ser encomendados diretamente pelo sítio. Todavia, a Estante não se responsabiliza pelo estado físico dos livros, devido à distância física que gera uma incapacidade de fiscalizar o estado real do grande número de livros disponibilizados. "Essa responsabilidade é integral dos sebos", argumenta a equipe do suporte comercial. Para evitar situações de divergência e insastifação, foi criado um sistema de qualificação baseado na experiência coletiva de compra. Nos casos em que a descrição do produto não corresponde com o que de fato é entregue, o suporte comercial executa ações de bloqueios de acervos ou até mesmo a suspensão de vendas.


A idéia de se criar uma rede integrada de sebos surgiu, há 3 anos, a partir da dificuldade do fundador André Garcia, então graduado em Administração de Empresas, em encontrar os livros indicados na sua bibliografia quando deu ínico ao Mestrado. Foi neste momento que ele percebeu que praticamente não havia sebos on line que atendessem às suas necessidades. Sendo assim, desenvolveu um sistema de busca em acervos de sebos, o que possibilitou a criação da Estante Virtual. Além de ajudar na busca de livros, em um número considerável de sebos, permite-se ainda que o internauta coloque seus próprios livros à exposição, criando, assim, uma espécie de estante individual, com capacidade de até 100 livros. Uma outra facilidade oferecida é a “busca off line”, onde o leitor pode encomendar uma consulta manual nas estantes físicas dos sebos, visto que nem todo o acervo pode estar informatizado.


Segundo Carmem Menezes, historiadora e proprietária do “Traça” – livraria online, lançada em 2000 e que nasceu de um projeto de extensão da livraria física Ex Libris, localizada em Porto Alegre (RS) -, as vantagens de se comprar de sebos é que se podem encontrar livros com preços relativamente mais baratos, além de ter à disposição um leque de produtos raros ou de interesses específicos, cuja publicação pode ter sido limitada. O serviço de entrega abrange todos os municípios brasileiros atendidos pelos Correios e até mesmo em outros continentes.


Para Jorge Gauthier, estudante de jornalismo, recorrer aos sebos online foi a única forma de encontrar os livros que queria, porém, o valor cobrado pelo frete e o estado em que o livro chegou a sua residência (não correspondeu ao estado descrito no sítio) foram as desvantagens. Outro sítio de venda virtual é o "Seboonline.com" que, funcionando desde 2007, é um portal criado para sebos, livreiros e clientes em geral que disponibiliza os acervos de mais de 200 sebos, totalizando cerca de 500 mil produtos a venda. Nele, o leitor pode encontrar tanto produtos novos como seminovos ou usados.


P.S.: Esta matéria foi feita em concomitância com mais outras três, que formam, conjuntamente, um única pauta (Sebos). Confira as demais:

Sebo Andante

Brandão

Impressões: Vendem-se livros por entre café, almoço e internet



Confira abaixo o vídeo de uma matéria que trata das obras raras encontradas em sebos, feita com a livraria "Traça":

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Conferência Nacional GLBT

“Direitos humanos e políticas públicas: o caminho para garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais” é o tema da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT). Dividida em duas etapas – nacional e estadual -, a Conferência tem o mérito de ser a primeira a ter este tipo de abordagem. A etapa nacional ocorrerá em Brasília, de 6 a 8 de junho deste ano e as etapas estaduais possuem cronogramas variados.

Os principais objetivos da Conferência, convocada por Decreto presidencial de 28 de novembro de 2007, vão desde reformulações de estratégias do projeto de combate à violência e à discriminação contra homossexuais e transgêneros, denominado “Brasil sem Homofobia”, até a elaboração do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos GLBT. Nas conferências estaduais, serão escolhidos representantes da sociedade civil e do poder público para atuarem como delegados e que irão à Brasília, durante a etapa nacional. “A realização dessa Conferência na data da comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, reafirma o compromisso do presidente Luis Inácio Lula da Silva em tratar a questão dos direitos humanos como uma política de estado” (trecho extraído do site da conferência).

A etapa estadual baiana começou, em Salvador, no dia 24 de abril e vai até o dia 26 deste mês, no Instituto Anísio Teixeira (IAT), na Paralela. De acordo com o site da Assessoria do Governo da Bahia - Agecom -, municípios como Alagoinhas, Barreiras, Valença, Irecê, Porto Seguro, Ilhéus, Feira de Santana e Castro Alves também realizam encontros e conferências que darão subsídios para o evento estadual.


Para Julian Rodrigues, ativista GLBT do Instituto Edson Neris (SP) e da Comissão Organizadora da Conferência GLBT, o que se pode esperar de uma conferência como esta é o reconhecimento social que se desdobre em direitos civis garantidos e políticas públicas para implementá-los. “A convocação da Conferência GLBT, em si, já é uma vitória política porque dá visibilidade para nossa luta por cidadania e marca o reconhecimento por parte do Estado brasileiro de nossa existência enquanto população historicamente discriminada, que necessita de políticas de ação afirmativa. A segunda coisa é constatar que o fato de o governo federal induzir os Estados a discutir este tema, colocou a cidadania GLBT na agenda do poder público e está obrigando setores que nunca discutiram o tema a se envolver, a pautar o debate, a realizar Conferências, a dialogar com nossos ativistas”, analisou Rodrigues.

Sexo rola em banheiros de shoppings

A matéria abaixo foi publicada originalmente no Jornal da Facom - jornal laboratorial da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, no ano de 2006.

Sexo rola em banheiros de shoppings

Vigilante diz que prática é antiga; militantes gays condenam comportamento, temendo riscos e preconceito.

Anderson SoteroDa equipe de reportagem do Jornal da FACOM


“Deve-se fazer tudo que se tem vontade. Antes que seja tarde demais”. Esta afirmação é a resposta dada por A. T., noivo de uma mulher há 5 anos, quando inquirido sobre o que costuma fazer em banheiros públicos. Para ele (e muitos outros), banheiros são sinônimos de satisfação sexual rápida e anônima. Encontros fortuitos entre pessoas do mesmo sexo ocorrem amiúde em banheiros de locais públicos como shoppings centers, rodoviária, estações de transbordo como a Lapa, cinemas, etc. M.S., segurança de um dos shoppings mais populares de Salvador, estima que isto aconteça há anos. Ele assegura que são sempre as mesmas pessoas que “freqüentam” os banheiros. São clientes, atendentes de loja que aproveitam suas pausas, além de alunos de cursinhos pré-vestibulares. “Eles chegam às vezes a subir no vaso sanitário para espiar a pessoa que está no outro lado”. Flagrar esses encontros tornou-se algo corriqueiro para M.S. Ele conta que, quando a situação esquenta, é necessário abordar os praticantes, que quase sempre alegam estar sofrendo discriminação, devido à sua orientação sexual. O que se desconhece é que praticar ou simular ato obsceno que ofenda o pudor público em geral pode ser enquadrado como crime, desde que haja conotação sexual. A lei brasileira prevê pena de reclusão de três meses a 1 ano ou multa para praticantes desse tipo de ato.

Para A.T., que se considera heterossexual, ter conhecimento da proibição não é impeditivo, é ainda mais estimulante. Porém, ele faz questão de destacar que, nas relações homossexuais que pratica, assume sempre a postura de ativo, isto é, aquele que penetra, o“macho”. O banheiro é um local recorrente por ter também um grau de exposição reduzido. “Em espaços abertos, eu não me arriscaria e minha noiva poderia ficar sabendo”, afirma convicto. Já para Daiane Moura, 22 anos, um gay que prefere ficar num lugar escondido é porque “não tem personalidade”. Em sua opinião, é preciso encarar a sociedade, desprezando o preconceito. “Você não se assumindo tem preconceito contra si mesmo”. Vale ressaltar que, após Daiane ter assumido ser lésbica, parte de sua família cortou por completo as relações que tinha com ela.

Riscos

Expor-se ainda é um risco grande. Sabe-se que o ódio e a repulsa cultivados por pessoas homofóbicas se refletem, em muitos casos, em agressões verbais e físicas cometidas contra homossexuais. Segundo dados difundidos pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), a cada dia no Brasil um homossexual é assassinado com requintes de crueldade. Neste cenário de intolerância, banheiros podem ser um meio facilitado de se obter prazer sexual, sem demasiada exposição, dispensando as etapas de apresentação – procedimentos comuns utilizados quando se querconhecer alguém.

Alguns “encontros” são combinados a partir de trocas de olhares, através dos espelhos, enquanto, geralmente, se finge estar lavando as mãos. Se houver reciprocidade no flerte, utiliza-se, então, de gestos para indicar a cabine disponível. Otaviano Reis, coordenador do GGB, defende que banheiros são exclusivamente para atender às necessidades fisiológicas. Acredita também que este fato prejudica a imagem que a sociedade pode ter dos homossexuais, o que pode levar a generalizações preconceituosas, estimulando a discriminação. Outro risco dos encontros é a ausência de medidas de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo a AIDS. P. S., operador de telemarketing, reconhece que nunca utilizou nenhum tipo de proteção, mas que, até hoje, somente fez sexo oral e masturbação, nada mais além disto.

Banheiro exclusivo gera polêmica

Após sua filha de 6 anos ter presenciado a troca de roupas de um travesti em um banheiro feminino, o presidente da escola de samba Viradouro (Niterói-RJ) propôs, no ano passado (2005), a criação de um banheiro diferenciado: exclusivo para travestis e transexuais. A proposta do sambista não foi a única. No dia 13 de dezembro de 2005, foi aprovado pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu, interior do Rio de Janeiro, um projeto de lei obrigando casas de shows, shoppings, cinemas, restaurantes, clubes e similares a criar o 3º tipo de banheiro. No ano de 2006, atendendo às reivindicações de um grupo de travestis que não se sentem à vontade para utilizar o banheiro masculino, nem o feminino, a Câmara de vereadores do município de Pombos, no agreste de Pernambuco, decidiu aprovar projeto de lei com a finalidade de construir um banheiro destinado a homossexuais.

Organizações e grupos que são contra a criação desses banheiros alegam que as pessoas devem ser reconhecidas pelo que denominam “identidade de gênero” - um conceito que se baseia no sentimento de masculinidade ou feminilidade que acompanha o indivíduo ao longo da vida e que nem sempre corresponde ao sexo biológico. Não devem existir vários banheiros para distinguir as pessoas. Acreditam que cada um deva utilizar os banheiros de acordo com sua identidade de gênero. Segundo Otaviano Reis, coordenador do GGB, o grupo é completamente contra a criação desse tipo de banheiro. “É uma atitude preconceituosa”. Adria Verusca, 24 anos, estudante de Enfermagem, vê o projeto como algo semelhante ao que foi feito na Alemanha por Hitler. “O que é que impede uma pessoa que tem uma orientação sexual diferente daquela da maioria, freqüentar o mesmo banheiro?”, questiona indignada.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Let me introduce the shoe again...


"É livre, ilimitado e, sobretudo, experimental". Dentro desta perspectiva, sobretudo na qualidade de experimental, "O sapato" vai a partir de agora abrir uma seção exclusiva para contos. A idéia inicial é a de publicar contos do próprio autor do blog. Apesar do primeiro post ter sido uma espécie de conto para explicar a criação do blog, o conto abaixo inaugura a "Seção: Contos...".
É importante destacar, a fim de se evitar o pânico geral, de que as intenções iniciais do blog serão mantidas. A nova seção será um acréscimo, uma nova possibilidade.


Mais uma noite
Era mais uma noite solitária que passaria. Mais uma noite em que sentiria o frio o dilacerar por dentro. Uma frieza emanada de recordações. Não conseguia compreender o porquê de a vida ser tão irônica. Tinha dificuldade de aceitar as coisas como elas eram ou como pareciam ser. Podia jurar que escutava esporadicamente a vida a rir sarcasticamente diante das suas frustrações e desilusões. Quando isto acontecia, encolhia-se, pressionando as orelhas com as palmas das mãos, para cessar o som das gargalhadas que ressaltavam suas derrotas. Queria extrair de sua memória tudo que não lhe agradasse. Somente se recordaria dos seus triunfos, de suas vitórias. Nada que lhe trouxesse a dor no peito que o fazia se sentir péssimo. Podia até se esconder das pessoas que o cercavam e daquelas que não conhecia também, e por vezes tentava pôr em prática este intuito. Fingir externamente era extremamente fácil para ele. Porém, nada poderia ser feito para se esconder da pessoa que o conhecia mais do que todos neste mundo. Era cúmplice de si mesmo. Tinha a impressão de que, ao olhar para qualquer objeto, não o fazia sozinho. Havia outra pessoa que somente ele conhecia. Alguém que estava ciente de todas as sensações que lhe ocorriam, provocadas pelas mais variadas situações de uma vida simples e banal. Acostumara-se com a monotonia das coisas. Na verdade, não enxergava mais nenhuma motivação nas coisas, no mundo, em nada. Praticamente desistira de viver. Fazia suas tarefas diárias, mas nem se dava conta das razões que o levava a fazê-las. Uma coisa que ainda não tinha perdido a vontade de fazer era caminhar. Mas quando se preparava para satisfazer uma de suas poucas vontades, desistia. Passara a detestar as pessoas, pelo menos a maioria delas. Gente mesquinha, vil, desprezível e repugnante. Por vezes tentava desvencilhar-se deste monstro que havia se tornado. Porém, malograva em cada uma das suas tentativas. Parecia não haver remédio para sua misantropia. Só de pensar que se depararia com pessoas tão insuportáveis, ele preferia ficar em sua casa. Escutando música. Isto sim era uma das poucas coisas que lhe restavam para desfrutar neste mundo sem significado.
Sentou-se na mesa da cozinha, enquanto esperava o café estar pronto. Tinha consciência do mal que podia lhe fazer ingerir tanto café. Mas não conseguia evitar. O mal era feito a ele mesmo. Quem poderia se importar. Pegou a xícara azul e grande que gostava. Colocou mais da metade de leite e completou com o café. Alguma coisa o distraiu, um latido longínquo talvez, e fez com que ele derramasse boa parte do café sobre a mesa. Praguejou bastante por muito tempo. Odiava coisas sujas. Ainda mais se ele fosse o responsável pela sujeira. Alguém uma vez lhe dissera que isto era conseqüência de alguma frustração. Um problema interno mal resolvido. Todavia, o único problema interno que possuía era uma gastrite. A droga de uma gastrite que parecia estar regida pelo seu estado emocional. E ele nunca estava bem emocionalmente. Alguém lhe dissera também que ele não havia amadurecido. Que fossem, então, todos os conselheiros para o inferno. Ele não tinha amadurecido, mas não estava pedindo nada a ninguém. Não estava. Pegou uma toalha na gaveta e se pôs a limpar a mesa. Mas não adiantava. Puxou a toalha com tanta raiva, como se estivesse arrancando todos os seus problemas, como se extirpar-se tudo que lhe doía de uma só vez. O som da xícara ao chão, não lhe tirara a atenção. Ficou segurando o pano por algum tempo, refletindo. Perguntava-se constantemente quando tudo isto se iniciara. Por que ele não percebera. Por que ele não evitara. As lágrimas escorriam-lhe do rosto. Abandonou a cozinha. Abandonou tudo. Ligou o som e saiu. Trancou a porta. E saiu à deriva. Era um horário agradável. A maioria das pessoas já havia retornado do trabalho, já estavam em suas casas. O risco de vê-las era ínfimo.
Andou por quase uma hora, até chegar em uma praça que se acostumara a passar o tempo. Sentou-se e arrancou uma flor de uma planta qualquer. Passou a fitá-la e se permitiu divagar. Desta forma conseguia sair deste mundo. Ir para qualquer lugar, que não fosse ali. Qualquer lugar em que se sentisse a vontade. Um lugar onde pudesse se despir. Ficar completamente nu. A mente vazia. Uma folha em branco. Poderia reescrever sua vida, sua história. Só conheceria quem realmente valesse a pena. Iria a todos os lugares que desejasse. E nada o incomodaria. Nem a sua gastrite.
Uma criança maltrapilha o fez sair de seu momento reflexivo e voltar à tona. Pedia-lhe alguma coisa que ele não se esforçara em entender. Acenou com a cabeça e deu de costas, deixando a criança a ralhar sozinha. Pessoas inoportunas. Insensíveis. Não lhe respeitavam. Não o deixavam em paz. Queria que tudo implodisse.

sábado, 12 de abril de 2008

Homofobia na Bahia - Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB)

 Band News FM - Homofobia na Bahia


De acordo com o relatório anual, divulgado pelo Grupo Gay da Bahia, no dia 08 de abril de 2008, a Bahia é o estado mais violento para homossexuais e travestis, com aproximadamente 15% dos assassinatos ocorridos em 2007. A pesquisa concluiu também que, no ano passado, cerca de 120 homossexuais e travestis foram assassinados no Brasil. A faixa etária da maioria das vitimas era de 20 a 40 anos. Travestis profissionais do sexo, professores, cabeleireiros e ambulantes são os principais grupos sociais atingidos.

Uma das principais dificuldades enfrentadas para se obter dados que comprovem os crimes motivados por homofobia é que, segundo o GGB, no Brasil, não há estatísticas governamentais que focalizem tais crimes. Faltaram ainda informações sobre quatro estados: Amapá, Rio Grande do Sul, Roraima e Rondônia. O relatório foi construído com base em notícias de jornal e internet.

No dia 17 de maio, comemora-se o dia mundial de combate à homofobia, porém, ainda existem países da África e América Latina, onde homossexuais enfrentam leis severas e rígidas. As punições variam de açoites à pena de morte.

Para Marcelo Cerqueira, Presidente do GGB, “Homofobia é uma espécie de racismo sexual baseada na ignorância e na intolerância machista que só considera normal a heterossexualidade, desprezando e discriminando os gays, lésbicas, travestis e transexuais. Todo homófobo tem problemas sexuais: alguns matam para provar que são machos de verdade!”.

A data escolhida faz alusão ao dia 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de transtornos e doenças mentais. Segundo L.G. Tin, autor do principal dicionário sobre homofobia, editado em Paris em 2003, a justificativa para o evento é “articular ação e reflexão, com vista a combater todas as formas de violência física, moral ou simbólica ligadas à orientação sexual ou à identidade de gênero”.

sábado, 5 de abril de 2008

“A homossexualidade não existe”


A obra de Caio Fernando Abreu (1949-1996), autor da frase que dá título ao texto, e as possíveis interseções com o cinema foi o tema da segunda mesa de discussão, realizada no Instituto Cervantes, durante a Mostra “Possíveis Sexualidades – da transgressão à vida familiar no cinema”, em seu terceiro dia de apresentações. A mesa foi composta por Guilherme de Almeida Prado, diretor do longa-metragem “Onde andará Dulce Veiga?” (2007), Állex Leila , professora e pesquisadora da obra de Caio Fernando, que substituiu o jornalista Thiago Soares que não pode comparecer, e Leandro Colling (mediador), professor do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da Facom/UFBA.

O mediador deu início à palestra e, numa forma de diversificar a apresentação dos palestrantes, leu trechos de uma carta, escrita pelo Caio Fernando Abreu, para o seu contemporâneo Guilherme Prado, onde incentivava o amigo a fazer o filme. Inicialmente, o roteiro havia sido escrito por ambos. Entretanto, Caio Fernando organizou os rascunhos e escreveu o livro “Onde andará Dulce Veiga?”, publicado originalmente em 1990.

“Após a morte do Caio, o projeto do filme ficou engavetado por cinco anos”, destacou Prado. O projeto somente veio a se realizar, a partir de uma reformulação do roteiro, quando percebeu que havia algo nele que não era datado, que era atemporal. A demora se deu porque, a priori, a idéia era a de fazer um filme sobre os anos 80, voltado para o público dos anos 80. Isto fez com que o projeto fosse sempre protelado. Guilherme Prado afirmou ainda, em tom descontraído, que, durante as filmagens, “na verdade, o diretor era o Caio e eu era o assistente de direção”, referindo-se aos acasos que ocorreram e influenciaram a produção.

Quando indagado sobre as dificuldades enfrentadas por trabalhar com um filme que possui também a temática gay, Guilherme Prado assegurou que esta característica não se configurou em um empecilho, visto que ele estava trabalhando com uma obra já publicada, de um autor conhecido e que já morreu. “No Brasil, é melhor trabalhar com um autor morto”, ressaltou o diretor. Para ele, o atual obstáculo é o de conseguir dinheiro para lançar o filme.

A segunda palestrante, Állex Leila, desenvolve um trabalho de pesquisa que se baseia nos contos escritos por Caio Fernando. “A minha relação com Caio ultrapassa as questões acadêmicas. Desde a primeira vez que o li, me apaixonei”. Porém, a pesquisadora salientou a dificuldade que teve em encontrar as obras do autor. “Hoje em dia é mais fácil, pois há uma grande editora que está publicando a obra de Caio”. De acordo com Állex Leila, não podemos afirmar que nos referidos contos a homossexualidade seja tratada como algo no singular, “não há uma única homossexualidade, e sim homossexualidades”, “a sexualidade (nos contos) nunca é resolvida ou encerrada numa única perspectiva”, esclareceu.

A primeira edição da Mostra se estende até o dia 11 de abril e exibe um total de 12 filmes – longas de ficção e documentário – produzidos na Espanha, Brasil e Argentina. As películas podem ser vistas no Instituto Cervantes, no circuito SALADEARTE (Cinema do Museu e UFBA) e na Sala Walter da Silveira, a partir das 16 horas. Pode-se conferir também, além da exibição das obras cinematográficas, a exposição fotográfica "Boneca Sai da Caixa", produzida pelo Laboratório de Fotografia da Facom/UFBA.

Caio Fernando Abreu

“Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade”.

Biografia

Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948 em Santiago (RS). Jovem ainda mudou-se para Porto Alegre onde publicou seus primeiros contos. Cursou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois Artes Dramáticas, mas abandonou ambos para dedicar-se ao trabalho jornalístico no Centro e Sul do país, em revistas como Pop, Nova, Veja e Manchete, foi editor de Leia Livros e colaborou nos jornais Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. No ano de 1968 — em plena ditadura militar — foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), tendo se refugiado no sítio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas (SP). Considerado um dos principais contistas do Brasil, sua ficção se desenvolveu acima dos convencionalismos de qualquer ordem, evidenciando uma temática própria, juntamente com uma linguagem fora dos padrões normais. Em 1973, querendo deixar tudo para trás, viajou para a Europa. Primeiro andou pela Espanha, transferiu-se para Estocolmo, depois Amsterdã, Londres — onde escreveu Ovelhas Negras — e Paris. Retornou a Porto Alegre em fins de 1974, sem parecer caber mais na rotina do Brasil dos militares: tinha os cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas e se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos. Assim andava calmamente pela Rua da Praia, centro nervoso da capital gaúcha. Em 1983 transferiu-se para o Rio de Janeiro e em 1985 passou a residir novamente em São Paulo.Volta à França em 1994, a convite da Casa dos Escritores Estrangeiros. Lá escreveu Bien Loin de Marienbad. Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio Fernando Abreu retorna a Porto Alegre, onde volta a viver com seus pais. Põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida. Foi internado no Hospital Menino Deus, onde faleceu no dia 25 de fevereiro de 1996. (Trecho extraído do site “Releituras”)

Especial Caio Fernando


Obs.: A matéria foi produzida em 2006. Na epóca, completavam-se 10 anos após a morte de Caio Fernando.


Saiba mais:

Programação da 1ª Mostra Possíveis Sexualidades
Sinopses dos filmes
A obra de Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um caso de pouca visibilidade

Embora a visibilidade midiática a respeito do tema seja ainda um pouco reduzida, há, de acordo com o “Livro de Contrato de União Estável Homossexual” – uma espécie de documento, onde se registra acordos do tipo, fornecidos por nove entidades representantes de direitos homossexuais ou de direito humanos de sete estados, cerca de 200 uniões entre casais de mesmo sexo no Brasil, sendo que a primeira ocorreu em 2003.

Estes dados contrariam a afirmação veiculada na imprensa (e no texto anterior a este) de que a união civil entre o jornalista Felipeh Campos e o produtor de moda Rafael Scapucim fosse o “primeiro casamento gay celebrado no país”. Poder-se-ia alegar que há neste evento, que será realizado no dia 10 de abril deste ano, características que fizessem jus à denominação “casamento”, como afirmou Felipeh, um dos noivos, no site de notícias do Yahoo, “É sim o primeiro casamento gay, pois é o primeiro que segue o figurino, com tudo protocolado: da lista de casamento ao bem-casado (a lembrancinha de casamento). Além disso, vamos ter uma cerimônia religiosa, no candomblé”. Todavia, no que concerne ao aspecto religioso, isto não representa ineditismo, pois segundo Luiz Mott, fundador do GGB (Grupo Gay da Bahia), desde a década de 70 realizava-se “casamentos” em terreiros de Umbanda. O próprio Mott teve cerimônia de “casamento” religioso semelhante quando se uniu a Marcelo Cerqueira, atual presidente do GGB, em 1988.

Para Andressa Marques, pós-graduada em Comunicação Social pela UFMG, é necessário que os grupos de sexualidade estigmatizada lutem contra a invisibilidade para alcançar o respeito social, “no momento em que (os referidos grupos) desejam lutar por direitos, por reconhecimento social e pela estima alheia, eles devem empreender tentativas de levar suas vozes para o espaço público de discussão e visibilidade”.

Conquistar cotas de visibilidade no espaço público não é algo que se pode conseguir com facilidade. Marques destaca que, antes de tudo, os indivíduos sexualmente estigmatizados precisam romper as barreiras do espaço privado, o que significa expor a própria identidade diante dos outros. Porém, ao realizar três entrevistas com militantes da causa GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) para a consecução do seu trabalho, ela ressalta que “Para se exporem diante de um público ampliado, os entrevistados apontam que é preciso vencer os riscos de ser julgado e avaliado pelo olhar do outro. Um “outro”, identificado como “a sociedade” ou como “eles”, que é implacável em suas observações dirigidas pelo preconceito e pela homofobia”.

No ano passado, mais especificamente no dia 25 de março, publicou-se uma reportagem no jornal Estado de São Paulo, onde era abordado o crescimento quantitativo de personagens gays em telenovelas globais. A primeira vez em que um casal gay foi exibido em em uma novela data de 1988. As atrizes Lala Deheinzelin e Cristina Prochaska interpretavam um casal de lésbicas em "Vale tudo" - novela exibida pela Rede Globo (1988-1989). Entretanto, esta mesma reportagem utiliza o termo “homossexualismo” no corpo do texto. Luís Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, salienta que o uso deste vocábulo não é mais apropriado, visto que “o termo politicamente correto para definir o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é homossexualidade e não homossexualismo. A idéia do "ismo" está ligada a uma patologia, a uma doença. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina excluiu o homossexualismo como doença, mesma medida tomada em 1990 pela Organização Mundial de Saúde. Em 1999, o próprio Conselho Federal de Psicologia também reforçou que a homossexualidade não é doença. Qualquer tentativa de cura da homossexualidade vai contra os princípios éticos da medicina e psicologia”.

De acordo com Renata Pallottini, especialista em televisão, há uma idealização do casal homossexual, de forma semelhante ao que fizeram com o negro. “Grande parte da sociedade ainda é muito preconceituosa, então não dá para passar dessa fase de idealização, por enquanto. Tem que explorar mais o tema para depois fazer com que casais gays sejam como casais hetero”, afirma. O jornalista André Fischer ratifica, “nas novelas, os gays são lindos, bem resolvidos, ricos, etc., isso é para a aceitação do público. É lindo, mas não retrata a realidade, mesmo assim, é positivo. É melhor ver a intimidade do casal gay no quarto do que um beijo xoxo”, afirma. (opiniões extraídas da reportagem publicada originalmente no jornal Estado de São Paulo e disponível na rede através do blog Carioca Virtual)


Murilo Arruda, mestrando em Ciências Sociais, encara a atual visibilidade homossexual como algo positivo porque “ela obriga o outro (a sociedade, no caso) a ver um mundo específico, provoca alguma transformação”. Ele destaca ainda que a importância não reside no fato da opinião gerada ser positiva ou negativa, o que vale é a familiaridade proporcionada com outras experiências de sexo, gênero e corpo. “Qual sociedade, qual povo não estranha uma forma diferente da sua instituída? A questão é criar novas disposições sociais”, argumenta.