A história do bairro Calabar, localizado entre o Alto das Pombas e São Lázaro, está atrelada à história da associação dos próprios moradores que, juntos, conseguiram impedir, através de uma espécie de correte humana, a retirada dos moradores da região. A atuação de associações como a do Calabar e os movimentos comunitários em geral foi o tema da edição do mês de agosto do Ciclo de Conferências Memória dos Movimentos Sociais da Bahia, promovido pela Fundação Pedro Calmon/Secult.
Ocupado na década de 30, o Calabar, que antes era um quilombo onde viviam negros nigerianos, quase sempre era veiculado na mídia baiana em geral de forma depreciativa. “Um dos principais objetivos da união dos moradores do bairro era justamente tentar mudar a imagem inditosa do Calabar. Era preciso usar a imprensa a favor da gente”, destacou Rodrigo Pita, coordenador do Grupo Jovens em Ação (GJA) do Calabar e da Biblioteca Comunitária do Calabar. “O Calabar não tinha nem um tipo de saneamento básico, nem luz elétrica, por isso a comunidade se uniu para lutar por melhorias”, ressaltou.
Hoje à frente do GJA, Pita desenvolve um trabalho de incentivo à leitura no bairro, através da Biblioteca Comunitária construída em conjunto com outros jovens da região e também com ajuda de jovens do Canadá. São 6700 livros catalogados e uma média de 10 empréstimos por dia, além de palestras, debates, filmes e cursos oferecidos à comunidade.
Resultados como este demonstram o poder de ação das associações de bairro. José Maurício Daltro, representante do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), defende que “é preciso acreditar que os moradores são os atores de transformação social”. Daltro ressaltou ainda a participação massiva das mulheres nesse tipo de associação. “Grande parte das lideranças comunitárias são mulheres que muitas vezes enfrentam o machismo em casa para estar a frente das associações em busca de melhorias para o próprio bairro”, afirmou o palestrante
A partir da estatística de que o Brasil possui uma população majoritariamente urbana, cerca de 85%, Ramiro Pedro Cora, presidente da Federação das Associações de Moradores do Estado da Bahia (FAMEB), argumentou que este dado, na prática, cria uma série de demandas e desafios para as entidades comunitárias, tais como problemas relacionados à saúde, segurança e habitação. Cora criticou também o apoio conferido por algumas associações a determinados partidos políticos. “É impossível uma associação de moradores, com uma diversidade de filiações partidárias que existe, apoiar um partido político ou um candidato em particular. Caso apóie, não mais será uma associação comunitária”, retrucou Cora.