segunda-feira, 8 de setembro de 2008

30 anos de combate à Homofobia

Conferência debate a trajetória de luta do Movimento LGBT

Fim de tarde. Sentado ao redor do Farol da Barra, assistindo ao pôr do sol, ao lado do seu companheiro. Subitamente, Luís sente o peso da mão que marca o seu rosto. Imediatamente percebe que foi um tapa dado por alguém que o observava. O motivo: o agressor percebera que Luís estava acompanhado do seu namorado. Casos como este representam a homofobia existente na sociedade. Entretanto, o personagem da história é real e foi durante sua participação no ciclo de conferências Memória dos Movimentos Sociais, no dia 4/09, no auditório da Biblioteca Pública (Barris) que, Luís Mott, fundador do GGB, confessou que já sentiu na pele os efeitos da intolerância.

Em 2007, a Bahia registrou o maior número de crimes cometidos contra homossexuais, enquanto que o Brasil lidera a lista de países onde os assassinatos são freqüentes. Neste contexto, a proposta era a de debater a trajetória de lutas do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Além de Mott, participaram também a presidenta da Associação de Travestis de Salvador, Milena Passos e a integrante do Núcleo de Mulheres Negras Feministas e Lésbicas Negras, Ana Cristina Santos “Negra Cris”.

Há exatos 30 anos o movimento homossexual brasileiro marcava espaço na arena dos movimentos socialmente organizados com a formação do grupo Somos, do Rio Grande do Sul e do jornal Lampião, que circulou de 1978 a 1981. Desde então, vários fatos podem ser considerados como conquistas para este movimento, por exemplo, a retirada, em 1974, do homossexualismo (termo mais tarde substituído pelo movimento LGBT para ‘homossexualidade’) da lista de doenças mentais pela Associação Americana de Psiquiatria e a fundação do Grupo Gay da Bahia, em 1980, pioneiro no combate à homofobia no estado. “A homofobia vai desde o insulto até a agressão física. É muito triste a posição que o Brasil ocupa no ranking dos países homofóbicos. É preciso estancar os assassinatos e arrombar as portas dos armários”, ressaltou Mott fazendo alusão aos homossexuais que não se assumem e ficam “escondidos no armário”.

Todavia, o movimento homossexual no país apresenta subdivisões. Para Negra Cris, o recorte se faz necessário, pois o movimento não contempla todas as necessidades do segmento. “Eu não sou apenas uma mulher lésbica. Eu sou uma mulher lésbica e negra. Portanto, sofro uma tripla discriminação”, destacou. A militante afirmou ainda que ser uma ativista é também assumir uma postura responsável nas escolas em que ensina, isenta de preconceito ou até mesmo não rir quando presencia uma situação discriminatória. “Nós vivemos em um Estado laico, onde não é respeitada a nossa dignidade, principalmente por conta de fundamentalistas religiosos. Cerca de 37 direitos são negados quando assumimos nossa homossexualidade”, criticou.

Dos direitos negados aos homossexuais, destacam-se: não poder somar renda para aprovar financiamentos; não poder incluir parceiros como dependentes no plano de saúde; não participam de programas do Estado vinculados à família; não adotam filhos em conjunto; não têm licença maternidade/paternidade se o parceiro adota filho; não têm licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro; não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre; etc. O GGB e a ATRAS são exemplos de organizações cujo propósito é o de garantir que os direitos da comunidade LGBT sejam tão efetivos quanto os de qualquer cidadão, independente de orientação sexual.

Para Michelle Makeda, 21, estudante de Secretariado Executivo, realizações como esta servem para discutir “um assunto que deve ser cada vez mais debatido. É muito interessante a abertura que eventos deste tipo promovem”, destacou.

2 comentários:

André Cardoso disse...

As vezes tenho a impressão de que tudo que está sendo feito em relação a temas concernentes à homossexualidade tem maior visibilidade e credibilidade na Bahia, acho que isso se deve graças ao trabalho do GGB.

Juniupaulo disse...

Vi, semana passada, a entrevista de uma representante dos direitos dos travestis no Jô Soares.
Foi legal.
Ela tinha sido indicada por Caetano Veloso, quando deu entrevista dias antes. Não achei no YouTube, mas se encontrar coloque aqui.
Continua massa seu blog.