sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sexo rola em banheiros de shoppings

A matéria abaixo foi publicada originalmente no Jornal da Facom - jornal laboratorial da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, no ano de 2006.

Sexo rola em banheiros de shoppings

Vigilante diz que prática é antiga; militantes gays condenam comportamento, temendo riscos e preconceito.

Anderson SoteroDa equipe de reportagem do Jornal da FACOM


“Deve-se fazer tudo que se tem vontade. Antes que seja tarde demais”. Esta afirmação é a resposta dada por A. T., noivo de uma mulher há 5 anos, quando inquirido sobre o que costuma fazer em banheiros públicos. Para ele (e muitos outros), banheiros são sinônimos de satisfação sexual rápida e anônima. Encontros fortuitos entre pessoas do mesmo sexo ocorrem amiúde em banheiros de locais públicos como shoppings centers, rodoviária, estações de transbordo como a Lapa, cinemas, etc. M.S., segurança de um dos shoppings mais populares de Salvador, estima que isto aconteça há anos. Ele assegura que são sempre as mesmas pessoas que “freqüentam” os banheiros. São clientes, atendentes de loja que aproveitam suas pausas, além de alunos de cursinhos pré-vestibulares. “Eles chegam às vezes a subir no vaso sanitário para espiar a pessoa que está no outro lado”. Flagrar esses encontros tornou-se algo corriqueiro para M.S. Ele conta que, quando a situação esquenta, é necessário abordar os praticantes, que quase sempre alegam estar sofrendo discriminação, devido à sua orientação sexual. O que se desconhece é que praticar ou simular ato obsceno que ofenda o pudor público em geral pode ser enquadrado como crime, desde que haja conotação sexual. A lei brasileira prevê pena de reclusão de três meses a 1 ano ou multa para praticantes desse tipo de ato.

Para A.T., que se considera heterossexual, ter conhecimento da proibição não é impeditivo, é ainda mais estimulante. Porém, ele faz questão de destacar que, nas relações homossexuais que pratica, assume sempre a postura de ativo, isto é, aquele que penetra, o“macho”. O banheiro é um local recorrente por ter também um grau de exposição reduzido. “Em espaços abertos, eu não me arriscaria e minha noiva poderia ficar sabendo”, afirma convicto. Já para Daiane Moura, 22 anos, um gay que prefere ficar num lugar escondido é porque “não tem personalidade”. Em sua opinião, é preciso encarar a sociedade, desprezando o preconceito. “Você não se assumindo tem preconceito contra si mesmo”. Vale ressaltar que, após Daiane ter assumido ser lésbica, parte de sua família cortou por completo as relações que tinha com ela.

Riscos

Expor-se ainda é um risco grande. Sabe-se que o ódio e a repulsa cultivados por pessoas homofóbicas se refletem, em muitos casos, em agressões verbais e físicas cometidas contra homossexuais. Segundo dados difundidos pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), a cada dia no Brasil um homossexual é assassinado com requintes de crueldade. Neste cenário de intolerância, banheiros podem ser um meio facilitado de se obter prazer sexual, sem demasiada exposição, dispensando as etapas de apresentação – procedimentos comuns utilizados quando se querconhecer alguém.

Alguns “encontros” são combinados a partir de trocas de olhares, através dos espelhos, enquanto, geralmente, se finge estar lavando as mãos. Se houver reciprocidade no flerte, utiliza-se, então, de gestos para indicar a cabine disponível. Otaviano Reis, coordenador do GGB, defende que banheiros são exclusivamente para atender às necessidades fisiológicas. Acredita também que este fato prejudica a imagem que a sociedade pode ter dos homossexuais, o que pode levar a generalizações preconceituosas, estimulando a discriminação. Outro risco dos encontros é a ausência de medidas de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo a AIDS. P. S., operador de telemarketing, reconhece que nunca utilizou nenhum tipo de proteção, mas que, até hoje, somente fez sexo oral e masturbação, nada mais além disto.

Banheiro exclusivo gera polêmica

Após sua filha de 6 anos ter presenciado a troca de roupas de um travesti em um banheiro feminino, o presidente da escola de samba Viradouro (Niterói-RJ) propôs, no ano passado (2005), a criação de um banheiro diferenciado: exclusivo para travestis e transexuais. A proposta do sambista não foi a única. No dia 13 de dezembro de 2005, foi aprovado pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu, interior do Rio de Janeiro, um projeto de lei obrigando casas de shows, shoppings, cinemas, restaurantes, clubes e similares a criar o 3º tipo de banheiro. No ano de 2006, atendendo às reivindicações de um grupo de travestis que não se sentem à vontade para utilizar o banheiro masculino, nem o feminino, a Câmara de vereadores do município de Pombos, no agreste de Pernambuco, decidiu aprovar projeto de lei com a finalidade de construir um banheiro destinado a homossexuais.

Organizações e grupos que são contra a criação desses banheiros alegam que as pessoas devem ser reconhecidas pelo que denominam “identidade de gênero” - um conceito que se baseia no sentimento de masculinidade ou feminilidade que acompanha o indivíduo ao longo da vida e que nem sempre corresponde ao sexo biológico. Não devem existir vários banheiros para distinguir as pessoas. Acreditam que cada um deva utilizar os banheiros de acordo com sua identidade de gênero. Segundo Otaviano Reis, coordenador do GGB, o grupo é completamente contra a criação desse tipo de banheiro. “É uma atitude preconceituosa”. Adria Verusca, 24 anos, estudante de Enfermagem, vê o projeto como algo semelhante ao que foi feito na Alemanha por Hitler. “O que é que impede uma pessoa que tem uma orientação sexual diferente daquela da maioria, freqüentar o mesmo banheiro?”, questiona indignada.

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