
Estes dados contrariam a afirmação veiculada na imprensa (e no texto anterior a este) de que a união civil entre o jornalista Felipeh Campos e o produtor de moda Rafael Scapucim fosse o “primeiro casamento gay celebrado no país”. Poder-se-ia alegar que há neste evento, que será realizado no dia 10 de abril deste ano, características que fizessem jus à denominação “casamento”, como afirmou Felipeh, um dos noivos, no site de notícias do Yahoo, “É sim o primeiro casamento gay, pois é o primeiro que segue o figurino, com tudo protocolado: da lista de casamento ao bem-casado (a lembrancinha de casamento). Além disso, vamos ter uma cerimônia religiosa, no candomblé”. Todavia, no que concerne ao aspecto religioso, isto não representa ineditismo, pois segundo Luiz Mott, fundador do GGB (Grupo Gay da Bahia), desde a década de 70 realizava-se “casamentos” em terreiros de Umbanda. O próprio Mott teve cerimônia de “casamento” religioso semelhante quando se uniu a Marcelo Cerqueira, atual presidente do GGB, em 1988.
Para Andressa Marques, pós-graduada em Comunicação Social pela UFMG, é necessário que os grupos de sexualidade estigmatizada lutem contra a invisibilidade para alcançar o respeito social, “no momento em que (os referidos grupos) desejam lutar por direitos, por reconhecimento social e pela estima alheia, eles devem empreender tentativas de levar suas vozes para o espaço público de discussão e visibilidade”.

No ano passado, mais especificamente no dia 25 de março, publicou-se uma reportagem no jornal Estado de São Paulo, onde era abordado o crescimento quantitativo de personagens gays em telenovelas globais. A primeira vez em que um casal gay foi exibido em em uma novela data de 1988. As atrizes Lala Deheinzelin e Cristina Prochaska interpretavam um casal de lésbicas em "Vale tudo" - novela exibida pela Rede Globo (1988-1989). Entretanto, esta mesma reportagem utiliza o termo “homossexualismo” no corpo do texto. Luís Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, salienta que o uso deste vocábulo não é mais apropriado, visto que “o termo politicamente correto para definir o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é homossexualidade e não homossexualismo. A idéia do "ismo" está ligada a uma patologia, a uma doença. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina excluiu o homossexualismo como doença, mesma medida tomada em 1990 pela Organização Mundial de Saúde. Em 1999, o próprio Conselho Federal de Psicologia também reforçou que a homossexualidade não é doença. Qualquer tentativa de cura da homossexualidade vai contra os princípios éticos da medicina e psicologia”.
De acordo com Renata Pallottini, especialista em televisão, há uma idealização do casal

Murilo Arruda, mestrando em Ciências Sociais, encara a atual visibilidade homossexual como algo positivo porque “ela obriga o outro (a sociedade, no caso) a ver um mundo específico, provoca alguma transformação”. Ele destaca ainda que a importância não reside no fato da opinião gerada ser positiva ou negativa, o que vale é a familiaridade proporcionada com outras experiências de sexo, gênero e corpo. “Qual sociedade, qual povo não estranha uma forma diferente da sua instituída? A questão é criar novas disposições sociais”, argumenta.
Um comentário:
Depois de um filme ganhador de oscar e outros caubóis e não-caubóis gays nas novelas das oito, acho que o aumento da visibilidade permitiu que pelo menos fosse muito mais comum encontrar pessoas que, prontamente, numa conversa acidental sobre o assunto, se declarassem liberais.
O pessoal de lá da agência é declaradamente liberal, claro, mas preferem ficar brincando de dizer ‘la ele’ toda vez que alguém diz alguma coisa que possa soar, o que é sempre inexplicavelmente cômico, minimamente homossexual. Ninguém pode ‘ficar atrás’, ‘colocar tudo’, em ninguém. E estamos falando de arquivos digitais.
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